"Era 1º de abril de 1964 quando os militares depuseram o presidente João Goulart e implantaram no Brasil uma ditadura que perdurou durante quase 22 anos.
Para não cair no anedotário popular do “dia da mentira”, o regime convencionou que a tomada do poder seria comemorada em 31 de março.
Além disso, o golpe, na concepção dos ditadores, seria chamado de “revolução”.
No início, contou com o apoio da população sob a crença de que era preciso afastar a ameaça comunista no País.
Demorou, mas o povo brasileiro percebeu a crueldade do regime e, após anos de lutas — armada por opção de uns e pela resistência da imprensa e opositores —, conquistou a volta da democracia após a campanha pelas “Diretas Já” em 1984.
Em Santa Cruz do Rio Pardo, foram poucos os opositores ao regime militar. Aliás, com a extinção dos partidos e a adoção do bipartidarismo em 1966, todos os políticos da cidade se filiaram à antiga Arena, partido de sustentação da ditadura militar. Somente em 1976 o MDB — único partido de oposição permitido pelo regime — lançaria um candidato a prefeito pela primeira vez.
Para acomodar numa mesma legenda adversários locais, o governo criou um casuísmo ao permitir sublegendas nos dois partidos políticos.
Assim, a Arena lançava sempre dois candidatos em Santa Cruz, um pela Arena-1 e outro pela Arena-2.
Os dois grupos se digladiavam, mas o governo federal sempre vencia as eleições.
Quando o regime militar endureceu, alguns santa-cruzenses foram perseguidos e até presos pela ditadura.
Um deles foi o comerciante e músico Dário Nelli, comunista convicto. Ele chegou a ser preso no mínimo em três ocasiões, quando a polícia encontrou farto material sobre a esquerda brasileira em sua residência.
Dário, na verdade, vendia assinaturas do jornal “A Voz da Unidade”, órgão oficial do então clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Os vizinhos de sua casa, na rua Conselheiro Antonio Prado, que compravam exemplares apenas para agradar o amigo, também se viram em apuros.
O professor Gentil Marques Válio, o advogado Amaury César e o escritor Wilson Gonçalves chegaram a ser ouvidos na polícia quando uma busca na residência de Dário descobriu recibos dos jornais em nome deles. Nenhum era simpatizante do comunismo, mas por conta do episódio aquele quarteirão da Conselheiro Antonio Prado foi apelidado de “rua Moscou”.
Fonte: Jornal Debate Online.
Retornando um pouco no tempo:
DECRETO N. 12.037, DE 1.º DE JULHO DE 1941.
O DOUTOR FERNANDO COSTA, Interventor Federal no Estado de São Paulo, no uso de suas atribuições, e
Considerando que, nos últimos dias da administração anterior, foram feitas inúmeras nomeações, remoções, promoções e contratos de pessoal, no quadro dos departamentos pertencentes a Secretaria de Educação e Saúde Pública;
Considerando que, em tais atos, dada a premência do tempo, nem sempre prevaleceu o critério da necessidade dos serviços, ofendendo, por vezes, direitos de terceiros;
Considerando que é de todo indispensável uma revisão dos aludidos atos, afim de que sejam salvaguardado o interesse público e corrigidas as injustiças e preterições por ventura verificadas;
Considerando que, para esse trabalho, que deve ser meticuloso, compreendendo o estudo de cada caso de per si, exige-se um lapso de tempo razoável.
Decreta:
Artigo 1.° - Ficam declarados sem efeito os seguintes decretos relativos à Secretaria da Educação e Saúde Pública, expedidos no período de 27 de maio a 3 de junho do corrente ano, exonerados os que tenham tomado posse dos cargos:
Nomeando:
o sr. Gentil Marques Válio, adjunto do Grupo Escolar "Ataliba Leonel", em Pirajú, para exercer o cargo de diretor do Grupo Escolar de Batista Botelho, em Óleo.
No ano de 1.978, Gentil colaborava com a empresa que editava o jornal DEBATE, em Santa Cruz do Rio Pardo, ao lado de Benedito Carlos de Almeida, Wilson Gonçalves, Adalberto Domingues, Celso Fleury Moraes, Hélio Brizola, Sérgio Fleury Moraes, Natalino Honorato, Luiz Fernando Nicolini e Ary Monteiro.
O DEBATE, na verdade, foi sucessor de um pequeno jornal estudantil editado por Sérgio Fleury Moraes a partir dos 12 anos de idade, “O Furinho”, que era mimiografado e vendido pelas ruas, de casa em casa. Aos 17 anos, fundou o DEBATE, que nas primeiras edições, por causa da menoridade civil de seu real proprietário, circulou com o nome do pai, Celso Fleury Moraes, como diretor-proprietário. Como a maioridade para gerir empresa na época era de 21 anos, Sérgio Fleury emancipou-se para ter legalmente o controle da empresa.No início o jornal não tinha grandes pretensões. Era, na verdade, um veículo cultural, voltado para artigos de colaboradores. Sérgio contava, na época, com a ajuda de vários amigos de escola, como Luiz Fernando Nicolini Lemos, Ari Monteiro, Luiz Carlos Silva (o “Cascão”, hoje professor do Colégio Camões), e outros. O primeiro design do título foi desenhado por Valdir Giácomo, funcionário de Máquinas Suzuki. Entre os colaboradores figuravam nomes como Wilson Gonçalves, Gentil Marques Válio, Hélio Leme Brizola, Benedito Carlos de Almeida, José Paula da Silva, Celso Fleury Moraes, José Magali Junqueira, Amaury César e outros.
A partir do final de 1978, o jornal adotou uma linha editorial crítica ao regime militar que comandava o país. No ano seguinte, foi catalogado no Ciex — Centro de Informações do Exército — como integrante da “imprensa alternativa” que incomodava a ditadura. O Ciex chegou a encaminhar um ofício secreto ao Tiro de Guerra de Santa Cruz do Rio Pardo solicitando informações sobre o jornal e seus colaboradores.
Eram tempos difíceis, de resistência à opressão e defesa das liberdades individuais e de imprensa. Em 1979, o jornal “Folha de S. Paulo” publicou uma extensa reportagem sobre a organização dos jornais de oposição à ditadura para repudiar atos do regime militar, citando o DEBATE. Em São Paulo, com apoio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais, surgiu o Comitê pela Liberdade de Imprensa, que passou a denunciar perseguições contra jornais independentes. O movimento teve apoio da Assembléia Legislativa, através do então deputado Fernando Moraes — que assinou coluna no DEBATE durante alguns anos. Em julho de 1979, o Conselho de Defesa dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa reuniu vários diretores de jornais alternativos para iniciar a preparação de um dossiê para denunciar os atos da ditadura militar. Participaram do movimento, além do DEBATE, representantes dos jornais Versus, Coojornal, Pasquim, Em Tempo, Movimento e outros da imprensa alternativa.
Pela lei estadual 6.434, de 25 de abril de 1.989, deu-se a denominação de "Professor Gentil Marques Válio à Delegacia de Ensino de Santa Cruz do Rio Pardo". O projeto teve a autoria de Israel Zekcer, PL- 324/1.988.
O prédio da antiga Delegacia de Ensino “Professor Gentil Marques Válio” de Santa Cruz do Rio Pardo agora é patrimônio histórico.
O imóvel foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) em julho do ano passado, mas a Secretaria de Estado da Educação foi informada apenas no final de dezembro.
O tombamento garante a preservação do prédio — não pode ser demolido e possíveis modificações precisam ser autorizadas pelo Condephaat.
O Condephaat tombou, ao todo, 123 prédios de escolas construídos durante a primeira República — de 1889 a 1930 — no Estado de São Paulo. O prédio da antiga Delegacia de Ensino de Santa Cruz data de 1913. Foi o único tombado na região da Diretoria Regional de Ensino de Ourinhos.
Construído pelo coronel Tonico Lista, o prédio abrigou primeiramente o Grupo Escolar do município e posteriormente tornou-se sede da Delegacia de Ensino. Em abril de 1999 a Delegacia de Ensino foi extinta por um decreto do governador Mário Covas e o prédio passou a abrigar cursos de capacitação de professores — o Circuito Gestão e, atualmente, o Pólo de Capacitação de Educadores.
Segundo a dirigente regional de ensino Maria Regina Pereira Araújo, a partir de março o prédio deve abrigar também o Projeto de Educação Continuada de Formação para Professores de Nível Superior, destinado a professores de municípios que não possuem curso superior (leia nesta página).
Funcionamento — O tombamento do prédio não impede que o Pólo de Capacitação de Educadores continue em funcionamento. “O que muda é que qualquer decisão em relação ao prédio só pode ser concretizada se houver prévia autorização do Condephaat”, explicou Maria Regina. Para a dirigente regional, é importante que o prédio continue com atividades para não se deteriorar. “E esse prédio continua com sua função original. Primeiro teve a educação das crianças e depois de professores. É um prédio que nasceu para fazer educação”, afirmou.
Gentil Marques Válio era casado com Leonor Ferraz Marques Valio que faleceu aos 89 anos de idade.
Leonor era filha de Calvino e Leonor B. Ferraz e faleceu depois de Gentil.
O casal só teve um filho, Amaury, que faleceu antes da mãe.
1º ANO — Foto de 1978 mostra colaboradores e membros da pequena empresa que editava o DEBATE; da esquerda para a direita: Benedito Carlos de Almeida, Gentil Marques Válio, de chapéu, Wilson Gonçalves, Adalberto Domingues, Celso Fleury Moraes, Hélio Brizola, Sérgio Fleury Moraes, Natalino Honorato, Luiz Fernando Nicolini e Ary Monteiro.