Texto de Luiza Válio
Durante dias, tive a paciência de observar as três folhas que nasceram algum tempo atrás no meu vasinho.
Eram batatas que eu trouxe lá de Sete Barras, há anos, as quais, anualmente rebrotam assim, folhagens coloridas, sempre iguais, que eu gosto muito porque me lembram minha mãe, ela sim, as amava muito, e mantinha vasos enormes cheios delas - de cores as mais diversas - na grande área que havia em nossa casa, lá no Sítio Bom Retiro.
Não me canso de contar isso.
Pois bem, mas observando o vento balouçar por entre essas três folhas que nasceram no meu vasinho, me vi a pensar como se ali houvera uma pequena família.
A folha mais nova, para mim, o filho, as maiores seus pais.
Quando ventava, e quanto mais balançava a "família", mais o "filho" se juntava e se aninhava e se enroscava ao corpo dos "pais", as folhas maiores, no meu entender.
Pois assim foi durante algum tempo.
Eu fui ali mentalizando uma história, que verdadeira essa história!
Vento e mais vento passaram por ali, e, embora a mais nova folha se segurasse com grande força às maiores, não conseguiu salvar suas vidas: as folhas maiores acabaram pendendo-se, perderam as forças diante dos ventos e, afinal, cansadas, porque já não aguentavam o vergar do tempo e do vento, caíram e murcharam.
Por mais que se agarrasse a eles, o filho perdeu o pai, depois a mãe, e agora está ali, sozinho, desvalorizado, desqualificado, solitário num vaso onde apenas a terra o sustentará até o embate final que também o levará embora um dia.
Que vida triste!
Mas será?
No ano que vem, quando as batatas brotarem de novo, vai que, ao invés de um filho, nascerão mais dois e dessa forma a alegria poderá durar um pouco mais?
Ou então...
Vamos torcer para que o vento não venha com tanta força ou a dona deste vaso não deixe as folhas da folhagem colorida ao relento para receberem tanto vento a ponto de matá-las, não é mesmo?
Oxalá!